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Terracorponuvem

by Sentidor

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Elegia 03:44

about

“Desertar o campo da significação linguística talvez seja o mais próximo de resgatar nossas noções mais substanciais e elementares. Quando nossos instintos são tudo o que temos para nos servir de guia estamos aptos a compreender de fato a importância da fragmentação e da decomposição de qualquer ordem enrijecida. O que acontece ao longo de todo o Terracorponuvem é uma apresentação de ideias como potências, uma vez reconhecida a impossibilidade de traduzir aspectos tão primitivos, que não se permitiriam capturar em discursos imóveis. Retornar ao núcleo mais básico de qualquer manifestação, viva ou não, é decompor em camadas movediças as configurações que tecem qualquer organização, desassociando os conteúdos das formas e deixando livre o campo de disseminação que origina todas as coisas. Dissolver o ego ou qualquer ilusão de identidade é também abandonar qualquer proteção contra a falta de homogeneidade dos acontecimentos e reconhecer a fluidez como estado primordial da vida.

O que de mais verdadeiro se não o Movimento Absoluto para encerrar em si a fagulha mais elementar de toda existência? Por mais singular que cada Evento possa ser, ele é parte da decomposição do todo e do trânsito de fluxos no incessante processo de transformações e reorganizações do universo. Movimento, para além da suposição de deslocamento material no espaço, é também passagem e transformação - tudo ocupa um papel provisório na constante dança empreendida pelos fluxos. O Movimento é o eixo que corta o tempo e que serve de caminho, mas é também um possível estado de morada - é nele que se firma a habitação nômade. Se “tudo chega cedo ou tarde demais”, a sombra do desencontro temporal recai sobre todos os espaços, fazendo com que sejamos naturalmente desterritorializados, nascidos da mudança constante, das brechas e dos atravessamentos. Quando abandona-se a linguagem a borda delimitante decompõe-se também, junto com qualquer rigidez. Os fluxos encontram descampados, abrindo possibilidades de construções infinitas; todas frágeis e disformes, como naturalmente deveriam ser. Cada fuga empreendida é dissolução e agrupamento, a criação também. É por escolher o nomadismo e, principalmente, por escolher ser o habitante da zona fronteiriça entre o já nomeado e o das palavras por vir que João se dá conta de que não precisa delas pra gritar tudo isso.”

Introdução por Júlia Zumerle

Terracorponuvem é uma obra que deságua pra além da música. É experimentação e mergulho em raízes, e é o processo ritual da conjuração mágica de um organismo vivo, um monstro impossível e ainda assim tão real, feito de floresta, fumaça, concreto, sangue, terra, corpo e nuvem. O quarto LP de Sentidor se arrisca nos modos de um oráculo abstrato que anuncia os já chegados tempos de uma bruxaria digital, das cyberflorestas e dos vírus sagrados. Um amuleto balança ao vento, junto às palmeiras na rua. Um carro de som toca um funk alto que ecoa pela noite, as janelas e o chão de madeira tremem como num terremoto; é madrugada e a pequena tela do computador, lento, é como um fantasma no meio da escuridão.

"É um disco noturno. É um disco sobre a noite das coisas." João Carvalho, o idealizador do projeto parece viver numa fase de forte espiritualidade. Frases escritas num painel na parede do seu quarto-estúdio resumem o som do disco de forma curiosa:

"A aniquilação da morte não é mais nada, uma vez que já era tudo, dado que a própria vida não passava de simples fatuidade, palavras inúteis, barulho de guizos e matracas. "

Barulhos de guizos e matracas, panelas e violinos, cantos e explosões de flores eletrônicas e atômicas. Ouvir Terracorponuvem é como pintar uma imagem sonora de um "brasil convulsivo", usando as palavras de João. A imagem de um som perdido, mas aí mesmo encontrado; é a visível busca de um som eletrônico local, real e urgente.

"Escrevi esse disco como um ritual..." ele conta. "Como uma forma de encontrar novos veios de expressão, de me deixar enlouquecer um pouco, de me reencontrar. E isso foi o processo de feitura do disco. O que vem depois, a socialização disso, o lançamento do disco e tudo mais, acaba funcionando mais como uma espécie de documentação."

Documentação necessária; o disco passeia por pontos muito diferentes. A percursividade pesada que remete suavemente ao som dos paulistas do Metá-Metá, os já característicos passeios em drones grandiosos e quase clássicos, uma espécie de arrastar-se irresponsável e bêbado nos tempos e nas levadas.

Perguntamos sobre o ritmo acelerado de lançamento e composição de João, que lançou também em 2017 Am_Par_Sis, um trabalho inspirado na obra reconstruída de Tom Jobim. “Essas questões não me incomodam muito. Eu faço música por uma vontade muito pessoal. É uma coisa meio de desabafo, de precisar colocar as coisas pra fora... acho que essa parte, nesse projeto pelo menos, se torna secundária.”

Essas questões realmente são secundárias em Terracorponuvem: apesar de denso e obscuro, o disco afeta. Como uma bomba, um susto, um reflexo do vento. Não precisa ser lembrado, nem entendido. Ele se faz sentir.

credits

released October 25, 2016

01 - Passe de entrada (Solidão)
02 - Pássaro-Rainha (Corpocircuito)
03 - Rio de Dentro (Chiaroscuro)
04 - Terracorponuvem (Fuga)
05 - O Rio Que Se Vê de Fora (Abridouro)
06 - Árvore (Rizoma)
07 - Morro (Lumeeiro)
08 - Foz (Andança)
09 - Cachoeira (Véu)
10 - Clareira (Bardo)

Musica por Sentidor
Gravado, produzido e mixado por João Carvalho na Toca Da Coruja
Arte: “Ela me contava chuvas de dormir”, por Cata Preta
( www.facebook.com/lcatapreta )

Filme e edições por Comuna.

Filmado em:

Belo Horizonte, Praça do Papa, Apresentação de Gigantes da Montanha pelo Grupo Galpão,
Natal, RN,
São Paulo, SP,
Curitiba, PR

Inspiração textual: In. A Conversa Infinita, Maurice Blanchot; A Imagem-movimento, Gilles Deleuze; Bardo Thodol (O Livro Tibetano dos Mortos).

Belo Horizonte, 2017.

Para Teca, Julia, Rafael e Ossanha.

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Sentidor Belo Horizonte, Brazil

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